terça-feira, 22 de junho de 2021

O meu mar

 Nas lágrimas que escorrem, sois um. Vejo as arvores que pousam em mim

Os ventos que sopram o amanhecer das tardes que voam em sons.

Vejo quem semeou os pés de gente e esteve antes dos pássaros ninharem.

Já eu não sei se ainda poderei voar, um patinho feio teima em não mudar.

Já viu minha imperfeição de noite, que depois se transforma em dia?

Já viu água amansar o ímpeto do fogo e depois o fogo elevar as águas?

Não vou citar o arranha-céu dos animais que devoram a sobrevivência,

Ou então a vida que semeia os voos de cada um que beija as flores.

Vim dizer dos vazios que me persegue, das ideias perdidas no escuro do depois,

De quando eu olho para o topo das montanhas e vejo a paisagem que ainda não sou.

Os pés que hão de pular até lá em cima, mal conseguem dar as certezas dos passos.

Tenho estado em movimento errôneo, aquele que circula o tempo sem direção,

Me pendurei na parede e dou voltas no relógio, o tempo passa sem mim.

Como eu queria ter a certeza dos rios, que correm e escorrem em direção ao  mar,

E nos anseio se preenche, desvia, espera e segue, todas as vezes que precisar.

O que me falta é ser, botar as asas da liberdade para escorrer em mim.

Deixar de observar e suar minha natureza da pele, para que possa sentir,

E um dia, eu acorde do açude com a correnteza me levando ao meu mar,

E na imensidão eu seja horizonte, aonde não tenha onde o tempo pendurar.

















domingo, 13 de junho de 2021

Um broto de impermanência

La onde se planta a existência,

A chuva regou o tempo com medo

E foi assim que nasceu o escasso,

Uma flor que brotou no vento

E um ser a colheu para refeição.

Comeu pela manhã feito pão

E da janela que estava enrijecida  

Refazendo a luz já entardecida,

Eu vi o tempo beirando a perda

E de repente ele caiu no anseio...

Quase se afogou em mentiras

Mas o inacabável nada muito bem,

Suas braçadas de possibilidades

Ainda hão de se fazer mais chuvas.

Por que da agua se faz cantorias

E anoitecer ouvindo esse barulhinho!

Nos faz escrever o nosso sonho

Que redesperta o nosso eu risonho.

E rir de não ser só uma etiqueta

Nos leva a nos costurar sem marca

E de chuva podemos nos modelar

Preenchendo as nuvens que faltar

Para que nossas próximas colheitas

Sejam regadas pela chuva de riso

Levando embora o medo de existir

Escorrendo o eu sou assim

E brotando a impermanência.